PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

OS PROBLEMAS DE UM ROTULADOR

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo."
(Fernando Pessoa)

   Serjão estraçalha os corações, pega todas, se tivesse um segundo pau comeria a si mesmo. Ontem disse que comeu dez, cinco queriam se vingar, olhou outros em volta e foi logo classificando-os por espécimes, pois ele era esperto e perfeito, nada do que existia lhe era demais, posto que ele era o maior.
   Como aquele (a) da família que nem passou dos 32 anos e dizem que é solteirão (ona), ou o nerd ou o geek (e olha que agora tá na moda), a virgenzinha, a songa-monga, o tio mala, o bêbado, o drogado, o maconheiro, o pseudo-intelectual, o "CDF", a patricinha, a baranga, o idiota (Serjão) queria que tudo fosse rebaixado a seu bel-prazer, pois, vivemos no país mais "smart" do universo, tem um malandro em cada metro quadrado, um disputando com o outro pra ver quem passa a perna em mais gente, o mal do malandro é achar que o mundo é bobo, como se dizia desde o tempo do onça ...
   Serjão era o rotulador-mor, seu espelho era a sua fuga, nunca amou ninguém, uma vez que seu ego nunca permitiu essa coisa de maricas que é o romantismo, pois no mundo da malandragem tudo é fake, todos são fortes, todos são invulneráveis, nunca se perdoa a falha, ali ninguém é humano, não existe amor em SP, RJ ... talvez os folhetins sejam o último refúgio de nós, os pobre-coitados e iludidos.
   Bom, a vida foi passando, Serjão encontrou uma mulher espetacular, aquela seria a sua maior "tiração de onda do século", passou duas semanas e ela lhe deu um toco, para desilusão de Serjão, a mulher de seus sonhos era casada com um gordinho, baixinho e assalariado. Ele disse a ela que faria qualquer coisa para tê-la, que ele era o "coisa e tal", que tinha muito dinheiro, que seu pai tinha casa em Angra e essas coisas todas que chovem na noite das "altas". Mas a mulherona disse que era fiel, que o gordinho era o homem de seus sonhos, que não trocaria ele por nenhum outro homem. Então, Serjão ficou indignado, quase tentou puxá-la para si, mas, de súbito, a mulherona de seus sonhos começou a ter uma crise de risos, e então, Serjão saiu dali, e foi para a boate e pegou duas loiras normaizinhas e, de manhã, de porre, guardou aquele mico para si mesmo, seus amigos nunca souberam dessa "falha". E então, Serjão continuou com a sua vidinha de xingar os outros e se divertir com os espécimes criados de sua cabeça, e o rótulo de ter perdido um mulherão para o gordinho nem passava pela sua cabeça, ele nunca entendeu aquela mulher, para ele não passava de uma louca.
   A vida burguesa continuou, inabalável, todos os perfeitos desfilavam com seus carrões, o teatro de quem tinha a pica mais grossa virou um campeonato praticado pelos melhores, e enquanto isso o gordinho comia sua mulherona e nunca disse isso para ninguém.

04/09/2013 Crônica
(Gustavo Bastos)
 
 

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