PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

TRILOGIA DA SALVAÇÃO

                      I

Face a face com o sinal da cruz.
Tremula no pátio a bandeira
do sangue puro da juventude.

Olhos, aos mares castanhos
de um sonho de sol,
morto o tempo em teu sal.
Veja, na plena manhã,
com os cavalos dançando
nos nenúfares,
os vinhos tristes
pausados em solidão,
a carne em luto
de um poema infausto.

Correm os dramas pela cidade da luz.
Vinga a luz a semente de sombra,
de sua penumbra o livro
se espatifa com dor de verso,
e todos os libertadores
do corpo
serão
espírito
do tempo.

Vai à morte teus planos!
Ferimento leve, o pulso
não tem medo,
o visionário
está vivo!

Como antes na astuta figura
dos pecados,
venerou a alma da sombra
como totem
em flor de carne
e tempo de escória.
Ferrolhou as pernas
numa dança macabra,
a besta do entusiasmo
em fantasmagorias
na pena do silêncio.

Vaga a felicidade
pelo pântano
dos infelizes,
como o canto da alma
na dor vigorada
de um sonho nu
de golpes
e revoluções.

       II

Descansa o meu corpo.
Feliz o tempo dos corcéis
em flora matutina,
como os libertinos
na barafunda
dos mártires,
bebendo vinho seco
e arrotando
filosofia.

Os cantantes das esferas tortas
velavam o corpo incorruto
do poema pagão,
safiras na alma do vingador,
plenilúnio esfacelado
nos ossos
do horizonte,
mangue marginal
na lama
de um vitral.

Embaixo das marquises
as marcas da mendicância,
um eremitério de almas tolas,
a água límpida
escorre
do pântano
da lua,
ferve o dilúvio
no cajado
de Noé,
o espanto
da revolução solar
funde
a eternidade
ao tempo
em poesia,
e o gládio protege
o corpo fundo
do poeta
virulento.

     III

O futuro que se nos dá
no himeneu
é o pátio lotado
de gerânios
na tempestade,
e o sol flutuando
na miragem
dos corpos
em febre
no surto
celeste
das levitações.

Com o cobre e o ferro
se ergue a força
em cada braço,
mantimentos são
postos na peregrinação,
a dor estala
como vento
e a alma
ainda vive
no mais vil
labirinto,
e da ode bruta
nasce
uma flor de lótus
rosácea
como o amor
repentino
da salvação.

Eu vi a glória na areia
como um peixe com
rabo de foguete,
meu corpo reluzia
transfigurado
como asas
que o Verbo
encantou
de sinestesia
na latitude
de um poema
de estrela,
e o sol caiu
nas minhas costas
com o sinal da cruz
na hora da pura morte.

17/04/2013 Êxtase
(Gustavo Bastos)

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