PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

BOEMIA VISIONÁRIA

Eu vinha desde o Hades
de um pecado sem culpa,
odores de Mefistófeles
apareciam
na névoa
que dançava
numa noite
inspirada.

Temi o caos do inferno
em lua de prata.
Olhei os versos que apareciam
de ritmos e tambores.
Vi sombras na vida
de um sacerdote.
Cantei sua cantilena
nos olhos
de uma saudade.

Dando de ombros
a uma deusa nua,
vi sua tristeza
encampada
de uma guerra
só dela.

Eu não a vi mais
nos meus sonhos.

Entrei em nova plumagem
aos delírios da derrota.
Como um selvagem
que não sabe falar.
Como um ser obscuro
da paisagem.

Eu não tinha percebido
como os homens são fracos.
Eu não queria ver
a força bruta
de um apaixonado.

Como se nas rimas
eu cantasse
o que não via,
decidi me matar
por um pouco
de absinto,
pensei em queimar
todos os meus versos
numa grande fogueira
em que almas se perdem.

Como silenciei no meu fracasso,
como fui rude e irascível
em meus pensamentos
de crânio esfacelado.

Não era noite naquela manhã.
O sol sorria e eu não queria
mais os miseráveis
da boemia.

Então saí andando,
como se anda
quando se está
louco,
vaguei pela cidade
e minhas pernas
pareciam de aço,
nunca mais mordi
aquela maçã
envenenada,
pois a ideia estava clara,
eu deixaria
as trevas
por uma luz
que não é deste
mundo.

Depois daquelas loucuras
enfadonhas,
recebi a bênção
do que sofri
num banquete
da vida
em canções,
não viveria mais
como um vulto,
saberia de todos
os acordes
dos hinos
celestiais,
em êxtase.

Por fim, na noite negra,
descansei o pensamento
em versos visionários
de um naufrágio
da alma sonhadora,
vi e revi tudo que ocorrera,
e não era mais eu
aquele poema.

26/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

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