PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 4 de setembro de 2011

AVENTURAS DE UM JOVEM NA CRACOLÂNDIA


AVENTURAS DE UM JOVEM NA CRACOLÂNDIA

"Deixe o crack de lado, escute o meu recado." (Racionais MCs)

   Agora virou rotina ver no noticiário a proliferação das cracolândias, a viagem terminal invadiu o nosso país e está dizimando pessoas, degradando em todos os sentidos a dignidade e fomentando a violência.
   Régis morreu de overdose de crack depois de fumar 60 pedras em 1 dia, coisa barata, agora falam até de uma nova invenção, o óxi, que vem para aumentar a dor e a desolação. Régis não era pobre, era de classe média alta, morava num condomínio da Barra da Tijuca aqui no Rio de Janeiro, ele começou com álcool e cigarro aos 13 anos, maconha, benzina e cola aos 14 anos, mas se apaixonou perdidamente pelo crack aos 15 anos, foi uma viagem sem volta. Régis foi encontrado morto na cracolândia de Manguinhos na zona norte do Rio de Janeiro. Um amigo dele de infância, este mais “esperto” que ficou só na maconha hidropônica disse que eles faziam parte de uma gangue de jovens de classe média que saíam para a “night” para brigar nas ruas ou boates, humilhar prostitutas ou pichar muros pela cidade, mas Régis foi longe demais, nos seus últimos dias ele estava perdido da família, estava morando na rua, pois seu pai o expulsara de casa, de menino rico virou um rebotalho, um “nóia”, passou a roubar, assaltar bancos, mas tudo ia para o crack, ele dormia na sarjeta, todas as tentativas da família de recuperá-lo foram em vão, ele fugiu de clínicas de desintoxicação dezenas de vezes, ele tinha o incrível talento de escalar muros e prédios, motivo de ser idolatrado pelas gangues de pichadores, Régis era “o cara” para esses playboys coitados que sonham em ser marginais.
   Vamos ao relato de seu amigo de infância, que falou com Régis poucos dias antes dele morrer. “Régis me dava orgulho, ele era o líder da nossa gangue de pichadores, mas o crack transformou ele completamente, começamos a fumar crack juntos com a galera nos condomínios fechados da Barra, vocês sabem, nós somos da classe alta, mas ficamos entediados e trocamos o conforto da casa e da família pelo conforto das drogas, é que precisamos de adrenalina para viver. Então, como dizia, a última vez que vi meu camarada ele estava transtornado, em crise de abstinência, tava vendo baratas subindo o seu corpo, ela estava magro e depauperado, disse que ia para Manguinhos comprar pasta base de cocaína e crack, ele queria aprender a fazer crack para sustentar seu vício, disse que queria bater seu recorde, lhe dei 100 reais e 50 gramas de skank para ele relaxar, ele me pediu mais dinheiro, mas disse que não daria, ele me chamou de ingrato filho de uma puta e saiu correndo, sumiu, agora esta notícia, de fato eu já esperava por isso, é uma pena. Ainda bem que eu só fumei essa merda por pouco tempo, mas ele foi longe demais.”
   Semanas depois de seu amigo tê-lo visto, Régis é encontrado morto na linha de trem, estava só de bermuda, tinha 10 pedras de crack em seu bolso que ele nem tinha fumado, a notícia que corre agora é que sua mãe tentou o suicídio, está em coma depois de tomar veneno de rato, espero que ela sobreviva, adeus Régis, a cracolândia prolifera, e agora temos uma nova ameaça, o óxi, preparem-se para mais mortes e degradação.

04/09/2011 Crônicas Diversas (crônica 2)
(Gustavo Bastos)



 
 
 

2 comentários:

  1. Caraca, barra pesada, Baxa... a grande sacada agora é: o que podemos fazer para mudar isso?

    Grande abraço!

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  2. Acho que é uma combinação de política de prevenção com uma de redução de danos, além da descriminalização dos usuários que, em Portugal, está dando super certo.

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