PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 30 de abril de 2011

MÁQUINA REVOLUCIONÁRIA

A civilização surgiu de um verbo santo e pagão, o paganismo é a fonte transcendental da carne que gritava em tempos imemoriais. Mnemosyne seduzia o arqueólogo dos vaticínios dos profetas de Jesus. Surgiu a Suméria e a Mesopotâmia entre o Tigre e o Eufrates, a guerra se anunciou numa época bíblica de hebreus contra egípcios, cananeus, amorreus, saduceus, moabitas, antropófagos e etíopes, a civilização era o sangue derramado dos povos que queriam um lugar próprio, o egoísmo humano já era praticado pela Pena de Talião, Código de Hammurabi, olho por olho, dente por dente, a guerra, a batalha, Jeová era o delírio da guerra campal hebraica, Moisés, Abraão, Ismael, Esaú, Jacó, Isaque, José, Rubens, Benjamin, Davi, Salomão, orientais, guerreiros ancestrais, fogo batismal, sarça pegando fogo divino, nuvem escura que cobria o Templo, maná que descia dos céus, gigantes anarquistas e pigmeus sonhadores. Tudo rodava na tortura dos infiéis! Aí veio Faraó que foi destruído por Jeová na sua presumida superioridade, as pirâmides foram feitas da escravidão, Ramsés, Osíris, Anúbis, todos os deuses idolatrados, a perdição do bezerro de ouro que seduziu tal povo de dura cerviz. Chegam então os berços ocidentais na Grécia arcaica, tempos em que se fez teatro trágico, Téspis, Safo, Praxíteles, Ésquilo, Sófocles, Teseu, Urano, Ulysses, Cronos, Zeus, pitagóricos, mentecaptos, mitos órficos, mitos persas, Eurípedes, Electra, Édipo, Aristófanes, reis, a democracia direta de Péricles em Atenas, os guerreiros de Esparta, os lunáticos, os apátridas, sonho nababesco de luxo em Bagdá e luxúria em Sodoma e Gomorra. Tempos inóspitos, toda a terra clamava por luz e sabedoria, então surgiu a primeira ciência, a Filosofia, tudo muda, o comércio se expande na Ásia Menor, vêm Tales, Anaximandro e Anaxímenes, Demócrito, Leucipo, Empédocles, Anaxágoras, Heráclito, Parmênides, Zenão, semearam a nova ciência, Sólon e Licurgo fazem suas legislações, o amor pela sabedoria tomou os corações, então veio Alexandre o Grande, então veio Sócrates e mudou tudo novamente, bebeu cicuta por causa de intrigas políticas, Platão nos herdou a imagem socrática, no Banquete se fez a digressão sobre o amor pederasta, depois veio o apóstolo Paulo e secou a seiva do lupanar romano e transformou sexo em pecado. Aristóteles fundou a lógica que Parmênides esboçara em fragmentos, Aristóteles reuniu tudo em uma esfera e nos deixou uma filosofia bem arrumada. Então o sonho persistiu, veio Epicuro, Cícero, estóicos, céticos, cínicos, o barril célebre de Diógenes, o cão. O logos já era conhecido e se tornou o meio dos pensadores. A vida percorreu semeaduras diversas até encontrar Jesus e seus milagres, o pobre judeu carpinteiro virou Deus e venceu a morte, foi sua figura que fundou toda uma espiritualidade e conflitos inimagináveis num tempo tão cruel, a cruz que era subversiva se tornou sacra e a Igreja se firmou, o Messias esteve entre nós, e os pagãos eram a perdição, a Filosofia era demoníaca, o paganismo deveria ser soterrado em nome da soteriologia originada nos gentios que rezavam e se amavam fraternalmente nas catacumbas. Tudo mudou novamente, Cristo virou dogma, e agora três era um. A civilização adâmica já tinha seu Rei, e nada poderia ser mais fundamental e perigoso para a humanidade, a civilização sempre oscilou entre o amor e a barbárie, mas a revolução do Holy Ghost era poderosa. Depois disso Plotino queria o Uno metafísico, todos os mártires e santos surgiram, daí se terá toda uma Hagiografia que fundamentará todos os dogmas católicos, a Antiguidade então caminhava para seus estertores. A Igreja Católica dominava cada vez mais o mundo ocidental, a Europa caminharia para um período obscuro de superstição, os bruxos nunca foram tão fortes no imaginário popular, entramos com escudos e armaduras no período medieval, Santo Agostinho é sua melhor e maior expressão, Santo Anselmo faz uma ontologia para provar a existência de Deus, São Tomás de Aquino faz uma Summa hercúlea e morre de tanto escrever, a peste negra é o anunciado Apocalipse de João, a Europa é dizimada pela praga e pela guerra dos cem anos, as bruxas pegam fogo, a discórdia aumenta, Maomé funda o Islã e seu califado, e vem então Guilherme de Ockham com sua navalhada que separa a utopia impossível de união entre Filosofia e Cristianismo, tudo era para sabermos que logo viriam Lutero, Zuínglio e Calvino, o Protestantismo ergue sua espada contra as indulgências hipócritas do poder papal, a Igreja reage com suas Encíclicas, mas nada seria mais tão fácil para o Catolicismo. O golpe logo viria com Copérnico, a Terra perde seu reinado para o Sol, Galileu é condenado como herege e a ciência moderna dá seu emblema matemático, as crendices medievais vão para o saco. A América é descoberta por Colombo, Michelangelo faz Deus encontrar o Homem na Capela Sistina, Monalisa sorri com o inventivo Leonardo Da Vinci. Então surge Bacon, Descartes, Espinoza, Leibniz, Locke, Berkeley, Hume, Malebranche, Newton, os iluministas, tudo conspira e surge a batalha entre racionalismo e empirismo que Kant tenta solucionar, Shakespeare surge magnífico no teatro elizabetano, Hegel vem com o último grande sistema e os românticos tomam a cena. Sturm und Drang, Hölderlin é o maior, Goethe e seu Fausto fundamental, Schiller é o esteta, a vida se torna bela, então vem Napoleão e toma o mundo convulsionado em mais guerra, ele morre só, daí se terá então novas ideologias, Darwin e a Origem das Espécies, o Positivismo de Comte, o Socialismo Utópico que quer derrotar a revolução burguesa e industrial, o capitalismo se torna um monstro da mais valia com Marx, e os anarquistas quebram as máquinas, Bakunin, Kropotkin e seus amigos sonham com um novo mundo, Nietzsche é transvalorado. Mas tudo mudaria mesmo no terrível século XX, tudo acontece rapidamente, as mudanças mudam a nossa mente, as vanguardas modernistas após o Impressionismo, o cinema mudo, o Expressionismo alemão, Cubismo, Surrealismo, Futurismo, Dadaísmo, Duchamp, Picasso, Matisse, Dalí, Bauhaus, Fordismo, Revolução Soviética, Einstein, Freud, a crise de 29, Escola de Frankfurt, Existencialismo, Fenomenologia, Pollock, Sartre, Heidegger, revolucionários, proletários e convulsionados, a convulsão antissemita nazista na figura diabólica de Adolf Hitler e sua oratória magistral, vem a Segunda Guerra, chega o rádio, vitrolas, tecnologia, indústria cultural, propaganda, Andy Warhol, bomba atômica, Hiroshima, Nagasáki, Stálin, o suicídio de Getúlio, Jazz, Rock and Roll, Elvis, Marilyn Monroe, os Beatles, o homem no espaço com Gagarin, o homem na Lua, o movimento hippie e o LSD, maio de 68, os poemas marginais, o movimento punk, a breguice dos anos 80, a queda do muro de Berlim, o fim da União Soviética e da Guerra Fria, a televisão, a internet, tudo muda novamente, viramos o século, já começamos bem, atentado terrorista nas torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, a doutrina guerreira de Bush filho, o enforcamento de Saddam Hussein, o sumiço de Bin Laden, os Talibãs, a vinda dos BRICS, a nova ordem do mundo, a crise dos subprime, Obama, a especulação do tempo, bem vamos bem, o mundo não acabará em 2012, amém!



30/04/2011 Delírios

(Gustavo Bastos)

3 comentários:

  1. Muito bom texto! Acaba com o fôlego da pessoa. =]

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  2. grande capixa! passeou pelo tempo hein!
    bem bom.

    marcelo cunha

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  3. Obrigado galera, fiquei feliz quando terminei esse poema, tinha acabado de ver um filme do glauber rocha, é a História em três laudas, hehehehehe.

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