PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

domingo, 3 de fevereiro de 2013

BLAVATSKY E A CHAVE DA TEOSOFIA

"Ler Blavatsky é entender um pouco mais das tradições espirituais que herdamos, crendo nelas ou não, pois é uma fonte de sabedoria, para além da figura controversa que foi Blavatsky."
   Helena Petrovna Blavatsky, nascida na Rússia em 1831, e falecida em Londres em 1891, também conhecida como Madame Blavatsky, foi uma das responsáveis, senão a principal responsável, pela elaboração do que ficou conhecida como a versão moderna da Teosofia, sendo co-fundadora da Sociedade Teosófica. Sua produção prolífica fundou as bases de uma espiritualidade que reuniu várias vertentes diferentes da herança espiritual do Ocidente e do Oriente, numa pretensa síntese eclética no sentido de criar com isso um sistema de pensamento.
   A leitura de uma de suas últimas obras, A Chave da Teosofia, nos dá uma visão introdutória do que se trata o pensamento dela e da Teosofia, pois em outras obras mais importantes, como em Ísis sem Véu e A Doutrina Secreta, duas obras vastíssimas e com infindáveis referências, temos um panorama de tradições antigas e bibliografias desconhecidas em grande parte pelo cânone moderno, e que formam o corpus principal da Teosofia em Blavatsky, fundando então a Religião da Sabedoria, como os teósofos chamam a Teosofia.
   Lendo sua obra mais acessível ao grande público, A Chave da Teosofia, temos um texto feito por Blavatsky com 2 personagens, um entrevistador e um teósofo, onde um encadeamento de perguntas e respostas é urdido para esclarecimentos do que é a Teosofia e, por fim, qual a função da Sociedade Teosófica.
   No que se refere ao esclarecimento almejado em A Chave da Teosofia, o que parece claro é que nem sempre um pensamento ou um sistema eclético podem produzir uma grande síntese universal de toda a espiritualidade conhecida pelo Homem em sua História. Abre-se um viés perigoso ao tentar, com um novo conhecimento espiritual, realizar todos os elos de sentido entre as tradições antigas, tais como: O Hinduísmo dos Vedas e dos Upanishads, o Budismo Mahayana, elementos de Gnosticismo, Alquimia, Magia, dentre outras referências esotéricas, incluindo aí a crítica ao Espiritismo, com o qual a mesma Blavatsky havia flertado antes de se tornar teósofa.
   O ecletismo muitas vezes afirma elementos comuns entre coisas diversas, e na sua versão teosófica, que trata da espritualidade, esse elemento chave que também inclui aí símbolos e mitos, tudo nos parece interligado, e de fato está, ainda que ocultamente, mas fazer dessas conexões um pensamento universal, tem um grande caminho pela frente, e que eu julgo difícil e quase impossível, vide a confusão de nomenclaturas para elementos semelhantes quando Blavatsky tenta explicar os conceitos da Teosofia, um ecletismo que, às vezes, é irritante, e que não atinge uma síntese realmente efetiva.
   O mérito das obras de Blavatsky, porém, e no livro A Chave da Teosofia, é exatamente, não a sua utopia de síntese espiritual, mas o que podemos tirar de seu ecletismo, que são os elementos que o compõe, como uma via interessante de acesso a conhecimentos esotéricos e tradições antigas nem sempre bem compreendidas, o que resulta, por fim, como ideal ético teosófico, no altruísmo e seu objetivo de realizar a fraternidade universal, nada muito diferente de outras seitas ou sociedades secretas.
   A visão da reeencarnação em Blavatsky e na Teosofia, por exemplo, difere um tanto da que é explicada pela doutrina espírita, assim como as comunicações mediúnicas, que para os espíritas são fonte de pessoas mortas, e que, para um teósofo, não passa de um resquício de individualidade, o que na linguagem espiritual, por sua vez, se chama casca, ou seja, é um efeito magnético do médium com elementos sem uma individualidade verdadeira, o que vai contra a crença espírita de vida após a morte no sentido de preservação do ego. Em Blavatsky, e para a Teosofia, existe uma visão de um Eu superior que reeencarna várias vezes, mas sem um ego constante, o que, para mim, me fez entender que tal visão é uma influência direta do Budismo Mahayânico, que afirma que não há ego no mundo espiritual. A comunicação espiritual, para Blavatsky, portanto, e no seu caso, se dá por transmissão de pensamento de grandes mestres espirituais, os quais Blavatsky chamará de mahatmas, e que serão seus guias para as suas grandes obras teosóficas.
   A vida de Blavatsky foi muito polêmica, entre brigas com amigos teósofos como Olcott, além de várias acusações de charlatanismo, pois adorava se exibir como dotada de poderes psíquicos, algumas vezes usando de fraude, como algumas pessoas comprovaram, o que não é, necessariamente, uma negação das faculdades espirituais dela.
   Blavatsky enfrentou o ceticismo e teve vários inimigos, tais como os espíritas, e sua obra se firmou apenas no meio esotérico, pois no pensamento acadêmico ela não é muito levada a sério. Por outro lado, ler Blavatsky é entender um pouco mais das tradições espirituais que herdamos, crendo nelas ou não, pois é uma fonte de sabedoria, para além da figura controversa que foi Blavatsky. A questão da validade da Teosofia como pensamento é, portanto, mais importante que a de sua verdade, embora um dos lemas teosóficos seja: "Não há Religião superior à Verdade".

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário: http://www.seculodiario.com.br/exibir.php?id=4783&secao=14
  
  

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