PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

QUADRANTE SOLAR

O sol do poema se veste
como leão na esfera veraz
de minha cantiga agreste
na terra da paixão que jaz

O sonho trevoso refulge
em tons vicejantes de poder
nas luas sentidas de condoer
varando a noite no meu lume

Das abóbadas sonhadoras de vigor
um sentimento pátrio de rima
verga o tronco do poema devedor
de meus sóis que vão em dor vendida

No passo ao címbalo de meus átrios
corroem céus submersos de mar
num verbo corrente do verso amar
sem chão e sem solilóquios vários

Em vã solidão não há céu em clarão
senão o limbo das almas derrotadas
por não saberem se voltarão
sem riquezas na lida das mansardas

Como lírio de selva na miragem
saberá de seus pendões a morte
que um dia foi o norte que não volte
de um tempo ímpio que não mais fazem

Pelo sino que toca à hora funda
se volta ao campo em dor e pranto
não mais rima que vai à barafunda
roer os ossos ociosos que canto

Ver de verde firmamento a escuridão
no silêncio da noite tal sentimento
com vigor terrível do mar que arrebento
no sal do poema que revelarão

Não serei torpe figura de tropa
ao ver de través meu langor
em lindo vagar que nunca soçobra
pelo canto sem rumo e sofredor

No acalanto das feras em prístinas eras
quando louvarei meu vitral
senão desperto em sonho venal
do que fui e de poesias severas

O estro e astúcias aos borbotões
ascensionam almas no vinho bruto
ao sol deserto da carne que tu pões
não virá sem hora na dor do murro

O poeta sentirá na carta o poema
e seu verdor refletido nas parcas
como em costuras fiéis e armadas
do livro que terá o poente que lamenta

Eu verei sem rancor e sem vertigem
a cor da vida pelo céu azul
pois dada à suma que é virgem
um terror sem bruma do debrum

Deblaterando-me com dor de fel
visto minha cabeça de aurora
uma vez rimada na lua que demora
perder-me em açoite como um fiel

Ao horror do último fragor
eu olharei a sensação ferida
qual lampejo que ama o sonhador
pelo que vi qual luta ser a vida

E a vida nunca tão esbelta
quão bela é a espada
vai viver a senda da nau esparsa
de lustre brilhoso de poeta

Vai o sol aurora férrea
redivivo senhor de si
avivar o vinho da azaleia
parar o corpo que ri

Da comédia ao drama da arte
tem todo o sonho quão delírio
desvelar o mar que aqui miro
uma vez por todas sem matar-me

Das nuvens o cume do lugar
desdita do criador anuncia
o poema do tigre sem desandar
num cais da nave em sinestesia

E jurar sob o sol no lagar
um juramento de ritmo à lua
vento soprando que não se ruma
senão para o silente caminhar

E na noite qual felicidade
ver tudo sem nada que arde
a não ser da noite o vil sonho
que não sei  mais como lhe ponho

Pois da carne ao labor da alma
tudo é lama e chão que nunca acaba
é o caminho eterno do poeta
que tem e entende tudo que acerta

Das dores os sóis pungentes
dos prazeres vis corpos de gentes.

20/04/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)

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