PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

GURUS E CURANDEIROS – PARTE XVIII

“Timothy Leary foi o mais intenso guru do LSD na contracultura”

Timothy Leary ganhou fama como uma espécie de guru do LSD, psicólogo dos EUA, atravessou a era hippie e foi um dos ideólogos do uso de psicotrópicos na psicologia e nos meios de alcançar uma nova realidade. Leary, ao se tornar um militante do uso de psilocibina, e depois de LSD, no campo terapêutico e experimental da psicologia, passou a ser um dos mentores principais da contracultura dos anos 1960.
Depois da publicação de seu livro “The Interpersonal Diagnosis of Personality”, em 1957, tal publicação lhe fez conseguir um cargo de professor em Harvard. Uma das ideias mais avançadas do livro era uma abordagem não-hierárquica na relação psicólogo-paciente, numa base que buscava uma nova realidade para o paciente e sua consequente libertação de padrões mentais neuróticos. Tal abordagem não-hierárquica e uma visão transformadora da personalidade só encontra paralelo na anti-psiquiatria de R.D.Laing.
A pesquisa de Leary em Harvard começou com a psilocibina, depois de uma experiência arrebatadora sua com cogumelos mágicos no México, foi quando ele descobriu que esta era uma chave para a transformação da realidade, ou seja, os estados alterados da mente. A partir desta experiência, Leary estabelece a sua base de pesquisas com experimentações de psicodélicos e a defesa do benefício de tais experiências com a consciência alterada e expandida.
Logo, Leary ganha o apoio do poeta beat Allen Ginsberg, quando os dois apresentam a psilocibina, a mescalina e depois o LSD para intelectuais e artistas nos EUA e na Europa. E no núcleo de pesquisa de Timothy Leary também contava com Richard Alpert, de Harvard, que logo se tornaria o guru e filósofo Ram Dass. E quando Leary descobre o LSD, este logo toma a dianteira em suas pesquisas. E, devido à ampla divulgação destas pesquisas, seu grupo passa a ser perseguido por defensores dos métodos tradicionais de terapia.
Seguindo suas ideias de não-hierarquia e de ampliação do estado mental e seu benefícios terapêuticos e de transformação positiva da personalidade, livre de amarras da neurose, Leary formula a sua Política do Êxtase, exposta em seu livro de 1968, “The Politics of Ecstasy”. Tal política era a do direito à liberdade interna, de exploração livre das faculdades mentais. Tal política ganha contornos libertários e hedonistas, constituindo uma espécie de filosofia ou doutrina de não-sofrimento e de expansão da consciência.
Em 1969, Timothy Leary prepara a sua candidatura ao governo do Estado da Califórnia, mas as leis antidrogas de Richard Nixon, presidente dos EUA na ocasião, tornaram inviável este plano, que seria o de implementar algumas de suas ideias contidas em sua Política do Êxtase.  Tal candidatura teve o apoio, por exemplo, de John Lennon e de Yoko Ono, e a canção “Come Together” começou a ser composta como jingle da campanha, mas acabou no álbum Abbey Road dos The Beatles.
Timothy Leary ficou mesmo marcado por sua relação militante e se pode dizer até um pouco messiânica com o LSD e sua divulgação e disseminação, uma substância descoberta acidentalmente nos anos 1940 pelo cientista suíço Dr. Albert Hoffman, e que Leary entendeu como o caminho principal de liberação e expansão da mente. Ele se junta ao professor Richard Alpert, e este mais tarde viraria o guru Baba Ram Dass, professor de disciplinas orientais, e dá sequência às pesquisas, deixando muitos professores de Harvard preocupados com a administração de drogas para os jovens da universidade.
E quando muitos destes jovens passaram a tomar as drogas por conta própria, fora do grupo de pesquisas psicodélicas de Timothy Leary, isto chamou a atenção do Departamento de Narcóticos e a CIA passou a ficar atenta, também provocando uma reação da Igreja, que considerava tais experiências como um distanciamento do Deus único da Bíblia, o que provocaria uma espécie de realidade múltipla e politeísta, o que acabou por fazer com que Timothy Leary e Richard Alpert fossem convidados a deixar seus cargos em Harvard.
Em 1962, Leary e Alpert continuaram as suas pesquisas com seus próprios meios, e foram empreender tais pesquisas com drogas psicodélicas em uma mansão-fazenda em Milbrook, e foi lá que começou a reunião de diversos artistas, poetas, intelectuais e amigos dos pesquisadores, além de pessoas curiosas que iam para lá experimentar uma nova consciência livre. O uso das drogas psicodélicas em Milbrook era feito em qualquer lugar da fazenda, desde que todos que tomassem as drogas fizessem um relatório da experiência que tiveram, detalhando o que viram e sentiram.
Com a popularidade do LSD, que virou o carro-chefe da contracultura e do movimento hippie, Leary continuou divulgando os benefícios do uso da droga, e Leary passou a produzir manuais de utilização segura do LSD, evitando bad trips e produzindo uma experiência positiva com o uso do LSD. Foi quando Leary criou alguns lemas ou expressões célebres de sua militância e pesquisa como “Turn On, Tune In, Drop Out, ou Se ligue (ative seu sistema neural e genético), Se entregue (interaja harmoniosamente com o mundo ao redor de você), Caia fora (sugerindo um processo ativo, seletivo de separação de compromissos involuntários ou inconscientes).
Timothy Leary foi o mais intenso guru do LSD na contracultura, era entusiasta como pesquisador e militante, expressão de uma época em que a expansão da mente através do uso de drogas psicodélicas era um ato político e de revolução, diferente do que veio depois, como fonte de loucura, morte e ilusão.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.






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